Mês: <span>agosto 2018</span>

Entendendo as emoções negativas: a raiva

Embora nos permita identificar as nossas necessidades e agir de acordo com os nossos interesses, a raiva é uma emoção mal compreendida, pois a avaliamos de forma polarizada ou “é tudo ou nada”, tendemos a concebê-la como uma expressão emocional disfuncional. Apesar da raiva estar frequentemente conectada a problemas de relacionamento e até a abusos, não é sempre sentida em sua forma extrema ou desemboca em comportamentos irracionais. A raiva também vem em uma ampla gama de sentimentos e intensidades, cada um com a sua própria função e mensagem, algumas das quais são emancipadoras e motivacionais. Para ajudá-lo a compreender melhor a sua raiva, este artigo é dedicado a investigá-la.

O papel da raiva

Entendendo as emoções negativas: a raiva
A raiva corresponde a um sinal de que nos sentimos ofendidos por algo ou alguém

Seja na forma passiva ou ativa, a raiva corresponde a um sinal de que nos sentimos ofendidos por algo ou alguém. Quando com raiva, estamos reagindo a um ataque – real ou imaginário – a nossa autoestima que nos leva a sentirmos rejeitados, ignorados, isolados, magoados ou criticados. A raiva também serve para nos devolver o que perdemos através desta (considerada) violação, tais como o respeito e o amor por nós mesmos. Além disso, a raiva existe para nos ajudar a recuperar o senso de autocontrole, bem como lidar com as emoções negativas que a cercam, como a tristeza e o medo. Em função desta característica, a raiva também nos ajuda a regular os sentimentos de inadequação.

Sentimentos relacionados à raiva

A frustração, a irritação, o ressentimento, o aborrecimento e a ira, por exemplo, são formas da raiva. Quando somos expostos a uma grande ameaça a nossa autoestima por um longo período, a raiva é sentida com maior intensidade e transforma-se em ódio.

Como a raiva é sentida no corpo

Tal como o medo, a raiva é desencadeada pela amígdala, ou “cérebro emocional”. Quando nos sentimos ameaçados e ficamos zangados, esta região cerebral prepara-nos para lutar contra um inimigo ou fugir do lugar. Como você pode observar na lista a seguir, as sensações corporais associadas à raiva são as mesmas ou similares às experienciadas quando tomados pelo medo, outra emoção associada à resposta de luta ou fuga:

  • Batimento cardíaco acelerado
  • Respiração curta
  • Aumento da temperatura corporal e pressão arterial
  • Armouring (tensão muscular, especialmente nas costas e pescoço)
  • Dor de cabeça
  • Dor de estômago
  • Pressão na mandíbula e ranger dos dentes
  • Tremores
  • Suor
  • Tontura

Raiva adaptativa e mal-adaptativa

A raiva adaptativa é como qualquer outro sentimento negativo sentido de uma maneira funcional. Quando experienciamos a raiva de forma saudável, ela nos permite reconhecer que algo não está correto e desaparece após algum tempo (em média, 20 minutos). Desta forma, a raiva saudável é produtiva, pois serve a um propósito específico em um determinado período, portanto, é de curta duração e corresponde a certo contexto. Esse tipo de raiva também direciona o nosso foco para mudança, ou nos ajuda a iniciar a contemplá-la. Quando estamos presos à raiva mal-adaptativa, no entanto, ela não é sentida nem regulada dessa maneira, mas tende a durar por um período mais longo (raiva acumulada) ou curto do que necessário para criar uma consciência e nos motivar a agir, ou é usada como o único meio para que recuperemos uma sensação de poder e segurança. A nossa falha em processar e lidar com os problemas destacados pela raiva – quando surge – tende a resultar em problemas de ordem comportamental, física e mental, assim como em dificuldades de relacionamento.

O que a sua raiva diz a seu respeito

Como já sabemos, o alarme da raiva avisa-nos que as nossas necessidades não estão sendo atendidas. Contudo, a natureza dessas necessidades varia, como sentir-se amado e valorizado, emocionalmente equilibrado, no controle ou seguro. A raiva destaca as nossas vulnerabilidades e sentimentos de impotência, agindo como um lembrete de nossas limitações como indivíduos quando não conseguimos alcançar os nossos objetivos de felicidade e bem-estar. Quando as nossas crenças fundamentais são demasiado rígidas e não correspondem à realidade objetiva, nós nos sentimos embravecidos e decepcionados não apenas conosco, mas também com as outras pessoas e, até mesmo, com a própria vida. A relação que mantemos com a raiva – seja reprimindo-a ou agindo de forma reativa e desiquilibrada – também é condizente com uma história de trauma do desenvolvimento não resolvido.

Antes de se apressar a julgar, negar ou esconder os seus sentimentos de raiva, concentre-se neles e faça as seguintes perguntas:

  • Que necessidades não estão sendo atendidas?
  • Quais sentimentos de inadequação a minha raiva pode estar mascarando?
  • A minha raiva é produtiva ou mal-adaptativa?

Quando começa a compreender a raiva e a registrar a sua mensagem, você passa a construir um relacionamento mais saudável com este sentimento e, também, consigo, direcionando a energia desencadeada por ela para algo positivo como a autoaprendizagem, a melhoria dos relacionamentos e  o crescimento pessoal.