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De onde vem a crença “eu não sou bom o suficiente”?

De onde vem a crença “eu não sou bom o suficiente”?
Quando a crença negativa “eu não sou bom o suficiente” está ativa, sentimo-nos inseguros e duvidamos de nós próprios

Quando a crença negativa “eu não sou bom o suficiente” está ativa, sentimo-nos inseguros, duvidamos de nós próprios e questionamos nossa inteligência e competência. Além disso, tornamo-nos hipervigilantes e dependentes de aprovação externa para nos sentirmos menos ansiosos. Se deseja obter mais controle sobre esse processo, recomendo fazer a ligação entre essa crença fundamental e o trauma infantil não resolvido. As experiências adversas, como sofrer bullying na escola, contribuem para fortalecer essas crenças negativas. Quando essa conexão é encontrada, encontra-se em uma posição favorecida para quebrá-la e livrar-se de seus efeitos na sua autoestima.

Contudo, se não sabe por onde começar, elencam-se exemplos de eventos traumáticos vividos na infância que resultam na crença de que não se é bom o suficiente na idade adulta:

– As suas notas escolares, mesmo quando muito boas ou excelentes, nunca foram boas o suficiente para os responsáveis pelo seu cuidado. Quando as compartilhava com eles, perguntavam quem mais as obteve ou se era o primeiro ou o segundo melhor da sua classe.

– Os responsáveis pelo seu cuidado não estavam emocionalmente presentes quando compartilhava as notas escolares com eles. Os seus esforços não eram nem validados nem rejeitados por eles, pois simplesmente não estavam interessados o suficiente para se importarem com isso.

– A sua escola e/ou professores era(m) ignorante(s) ou não possuíam ferramentas corretas para lidar com a sua vulnerabilidade psicológica, tal como o Transtorno de Déficit de Atenção ou Asperger. Você se sentia mal por ser diferente, solitário e até alienado por não ter apoio.

– Você estava com fome, cansado, raiva e/ou medo/ansioso para conseguir se concentrar na escola. Você tinha dificuldade de se concentrar e/ou não tinha estrutura para aprender como os colegas.

Como o seu cérebro construiu essa noção de que não é bom o suficiente? Quais são os eventos negativos que funcionam como “prova” da sua suposta incompetência? Vá para um lugar privado e concentre a atenção na respiração por 1 minuto. Em seguida, conecte-se com o corpo, da cabeça aos pés. Estabeleça a intenção de ser guiado por ele para encontrar uma conexão entre “eu não sou bom o suficiente” e um evento adverso da infância. Por fim, observe onde isso o leva. Depois do seu cérebro remeter-lhe a uma imagem, permita-se sentir-se presente com ela. Observe os efeitos que provocam em sua psique, no corpo e nas emoções. Repita essa prática em dias diferentes até que a imagem não tenha nenhum efeito negativo sobre você.

O autocuidado requer esforço

O autocuidado requer esforço
A meditação, os exercícios respiratórios, a ioga e a alimentação saudável são práticas de autocuidado.

É comum entre aqueles que investem na saúde mental e física saberem do que se trata o autocuidado. Como conselheira de trauma, falo abertamente com meus clientes sobre a importância de uma rotina de autocuidado, que compreende práticas regulares para promover o bem-estar, tais como: a meditação, os exercícios respiratórios, a ioga, a alimentação saudável, a caminhada e a higiene pessoal, por exemplo. Quando os incorpora com sucesso na sua rotina diária, pratica um bom autocuidado. Quem pratica o autocuidado, regularmente, sente-se mais equilibrado e menos suscetível à sobrecarga emocional.

Se cuidar de nós nos faz tanto bem, por que não o fazemos? Por que precisamos ser lembrados por nossas terapeutas da importância de mantermos uma rotina de autocuidado? Porque o autocuidado, para a maioria de nós, exige esforço. Tratar-se com cuidado pode ocorrer naturalmente, em especial para aqueles que sofreram negligência e abuso durante o crescimento e desenvolvimento. As vítimas do trauma complexo tendem a ter uma relação complicada com o corpo. Para esses indivíduos, negligenciar e até abusar de si próprio pode parecer mais instintivo do que adiar a gratificação para priorizar a saúde a longo prazo.

A hipervigilância – um efeito comum do trauma da infância – faz com que a pessoa se sinta constantemente em alerta máximo ou presa no modo de luta ou fuga. Aqueles que sofrem de hipervigilância são propensos ao armouring (tensão em várias partes do corpo), à preocupação excessiva e à ansiedade. Os corpos hipervigilantes também são inquietos e impacientes, portanto, a meditação diária, para alguém assim, representa um esforço gigantesco. Nesses casos, focar na respiração e observar os pensamentos sem julgamento parece contraintuitivo, quando tudo o que se quer fazer é se levantar e se distrair.

Se você é um sobrevivente do trauma do desenvolvimento/infância, ou sofreu negligência e/ou abuso, é imprescindível que seja gentil consigo próprio. Embora o autocuidado seja bom, não significa dizer que é fácil de fazer. Provavelmente, você achará difícil incorporá-lo à sua rotina diária e, ainda mais difícil, mantê-lo. Não desista. Mais importante ainda, não se castigue por não conseguir acertar logo de cara. Dê tempo a si próprio. Você está ensinando o seu corpo um novo truque – algo que não conhece – então, dê um tempo para que se acostume. Com a prática, você começará a desfrutar dos benefícios de se tratar com cuidado, amor e respeito. Seja paciente e confie no processo.

 

3 razões pelas quais você sente que não pode confiar nos próprios sentimentos

3 razões pelas quais você sente que não pode confiar nos próprios sentimentos
Você confia no que sente?

Como terapeuta de EMDR Focada no Apego, que se especializou no trauma relacional, honrar os sentimentos dos meus clientes e o direito de acreditar na sabedoria emocional são ferramentas essenciais do meu trabalho. Não me surpreende, portanto, observar que tais vítimas tendem a apresentar uma relação complexa e, por vezes, negligente, com o próprio corpo, os sentimentos e as emoções, o que tem um impacto negativo na sua saúde física e/ou mental. Para esclarecer este processo e ajudá-lo a quebrar o hábito, elenco 3 razões pelas quais sente que não pode confiar nos próprios sentimentos

1- Você foi criado em um ambiente de negligência e/ou abuso emocional

Quando se cresce sem se sentir devidamente ouvido, visto e percebido, há dificuldade para se conectar e honrar a si próprio. Para promover o bem-estar emocional e desenvolvimento saudável, os pais autoconscientes estão atentos e respeitam as necessidades, os sentimentos e os desejos dos filhos. Ao validar a experiência destes, ajudam-nos a honrá-la e, como resultado, a desenvolverem um senso de identidade equilibrado e, portanto, guiado, confortavelmente, pelos próprios sentimentos. Por outro lado, os filhos, cujos sentimentos foram rejeitados pelos pais como se não tivessem importância, sentiram-se envergonhados e rejeitados por possui-los. Por isso, aprenderam, por meio desses mesmos processos, a reprimirem ou negarem a sua sabedoria emocional.

2- Conectar-se com sentimentos negativos faz com que se sinta inseguro

Você se lembra do que acontecia quando expressava as emoções e sentimentos negativos, tais como raiva, tristeza, medo e luto quando criança? Como as pessoas chave ao seu redor, ou seja, os pais ou responsáveis por seus cuidados, professores, parentes e amigos respondiam? Se reagiam com antagonismo, fosse ignorando os seus sentimentos completamente, preocupados em resolver o que interpretavam exclusivamente como um problema, envergonhando-lhe abertamente por tê-los , fosse fazendo-lhe acreditar que não correspondiam a uma verdadeira experiência (gaslighting ou abuso da verdade), é natural que se sinta vulnerável e inseguro quanto à veracidade e ao propósito dos sentimentos, mesmo quando adulto.

3- Você encontra-se em negação ou não está pronto para mudar

Duvidar do que sente – especialmente quando passa por tempos difíceis e as mudanças são necessárias para promover um bem-estar sólido – contribui para que permaneça imóvel. Se não está pronto para enfrentar a realidade ou disposto a colocar a energia necessária para implementar mudanças positivas e lidar com as consequências, dizer a si próprio que não pode confiar nos sentimentos, embora isso o mantenha em uma zona de conforto, perpetua o desconforto a longo prazo. Essa estratégia de enfrentamento disfuncional alimenta a inércia e cria uma sensação temporária de segurança.

Para se sentir integro e, sobretudo, levar uma vida autêntica e gratificante, recomendo questionar as crenças que desembocam em uma inadequação proveniente de pensamentos que não pode confiar no que sente de forma enfática e proativa. Faça isso praticando a filosofia: “sinto, portanto, acredito” e diga a si mesmo que essa inadequação faz parte do seu condicionamento e está mais do que na hora de deixá-la no passado. Em seguida, concentre-se em recriar um relacionamento mais livre e confiante com o eu verdadeiro, permitindo que os sentimentos assumam a liderança, incondicionalmente.

130 conceitos de emoções para atualizar o seu vocabulário

130 conceitos de emoções para atualizar o seu vocabulário
Os conceitos de emoções ajudam-nos a criar uma percepção de realidade mais empoderadora

As emoções não apenas ajudam-no a compreender o que está acontecendo dentro do corpo, mas também influenciam a percepção sobre o que está fora de forma criativa e empoderadora. Portanto, quanto mais especializado for o seu vocabulário para explicar os sentimentos e estados emocionais, maior se tornará o seu entendimento da experiência interior e a capacidade de transformar a percepção da própria realidade. Para abordar o mundo emocional de modo mais especializado, porém, descomplicado, elencam-se 130 conceitos de emoções para atualizar o seu vocabulário:

Aceitação, admiração, adoração, agitação, amargura, angústia, aborrecimento, antecipação, ansiedade, apreensão, arrependimento, alívio, autorrejeição, atormentado, autopiedade, atordoado, amor, alienado

Certeza, confiança, conflito, confusão, conexão, curiosidade, constrangimento, ciúmes, comovido, choque, ceticismo, culpa, cautela, contente, calma

Diversão, derrota, defensiva, desafiador, desconfiança, deprimido, desejo, desespero, determinação, devastação, decepção, descrença, desanimado, desilusão, dúvida, destemor, desprezo, dissociação, desvalorizado, desconsolado

Espanto, euforia, emasculado, excitação, empatia, esperança, equilibrado, estressado

Frustração, felicidade

Gratidão

Horror, humilhação, histeria

Impaciência, inadequada, indiferença, insegurança, inspirada, intimidada, irritação, impotência, incerteza, inutilidade, insatisfação, inveja, ignorado

Luto

Medo, melancolia, mágoa, mortificado, mal humor, mal-estar

Nojo, negação, nervosismo, nostalgia

Obcecado, oprimido, orgulho, ódio

Pânico, paranoia, paz, pena, prazer, presunção, pesar, perturbado, preocupação, paixão

Raiva, relutância, remorso, ressentimento, resignação, resiliente

Sentimentalismo, satisfação, saudades, surpresa, suspeita, simpatia, solidão

Tristeza, temor, traído, terror, tranquilidade

Validado, valorizado, vingativo, vingado, vulnerabilidade, vergonha

Para se beneficiar dos conceitos emocionais listados, aumente a autoconsciência e crie o hábito de monitorar e dar nome ao que sente e aos estados emocionais. Ao sentir desconforto emocional, agitação ou estresse, esforce-se para usar tantos conceitos quanto forem necessários para explicar o que está vivenciando de forma proativa e não – puramente – reativa. Além disso, quando este processo é aplicado, simultaneamente, aos sentimentos ​​e estados emocionais agradáveis, permite-o aprender a tolerar a ambiguidade e se conectar com um eu mais íntegro e centrado. Com o tempo, essa prática também exerce impacto direto na visão tendenciosa negativa, reduzindo o seu poder e, o que é mais importante, enriquecendo a sua percepção da própria experiência e validando o seu papel como criador desta. Se a ideia de que os nossos cérebros criam a realidade e não apenas agem de forma reativa desperta o seu interesse, recomendo a leitura do brilhante How Emoticons Are Made: The Secret Life of the Brain de Lisa Feldman Barrett (disponível somente em inglês).

Crenças negativas comuns de quem sofre de TEPT-C

Crenças negativas comuns de quem sofre de TEPT-C
Os indivíduos sofredores de TEPT-C têm dificuldade de pensar e sentirem-se bem consigo próprios

Os indivíduos sofredores de TEPT-C (Transtorno do Estresse Pós-Traumático Complexo) apresentam uma visão de si próprios, do mundo e das outras pessoas por meio da lente distorcida do trauma de ordem complexa. As vítimas deste tipo de trauma possuem dificuldade de manterem uma perspectiva objetiva e neutra devido às experiências adversas que afetaram a sua neurobiologia e capacidade de viverem no presente sem uma necessidade exagerada de se proteger contra futuros perigos. Se acredita que é o seu caso, é importante identificar as crenças que perpetuam a sensação de insegurança, desesperança, impotência, desconexão e isolamento, tais como as mencionadas abaixo:

Há algo de muito errado comigo

Eu não tenho controle sobre as minhas emoções

Estou sozinho neste mundo

Não posso confiar em ninguém

Quando as coisas parecem estar funcionando para mim, significa que algo de ruim está por vir

Se eu permitir que descubram quem realmente sou, vão me abandonar

Eu não consigo me sentir bem com quem sou

Eu não estou seguro

Ninguém me entende

Eu sou amaldiçoado

Os relacionamentos íntimos são fontes de sofrimento, portanto, devem ser evitados

O meu problema de saúde mental está além de cura

Eu sou incapaz de fazer os relacionamentos funcionarem

Eu sou louco

Eu nunca serei capaz de me dar bem na vida como as outras pessoas

Eu não tenho controle sobre o meu próprio corpo

Algumas pessoas podem até gostar de mim, mas é porque não conhecem o meu verdadeiro eu, porque se conhecessem, não gostariam

Eu sou menos do que os outros

As coisas são mais difíceis para mim do que para outras pessoas

Preciso sempre evitar as pessoas, coisas e situações que funcionam como gatilhos para o meu trauma

Eu nunca vou me sentir livre do(s) meu(s) abusador(es)

Eu sou impotente contra o(s) meu(s) abusador(es)

Eu só vou superar o meu trauma se conseguir distanciá-lo da minha mente por completo

Eu só vou superar o meu trauma se conseguir não sentir mais nenhuma emoção relacionada a ele

Todos os meus comportamentos disfuncionais são efeitos do meu trauma

Eu não consigo controlar os efeitos do meu trauma

Eu só vou me sentir bem quando o(s) meu(s) abusador(es) estiver(em) morto(s)

Quando as coisas ficam difíceis, a melhor solução é se afastar do problema

Os outros me veem de maneira diferente por causa do que passei

As coisas nunca irão dar certo para mim

Já que as crenças rígidas tais como as listadas acima falham em fazer justiça à nossa complexidade, bem como a capacidade de gerenciar vulnerabilidades e viver uma vida plena, recomendo que dedique tempo a questionar as quais ressonam, de alguma forma, no próprio pensamento. Se precisar de ajuda para entender porque são disfuncionais e como se referir a elas como tal, clique aqui para acessar a minha lista de erros cognitivos.

Regulando o medo do abandono: um estudo sobre o papel da vergonha

Regulando o medo do abandono: um estudo sobre o papel da vergonha
O medo do abandono é sentido quando a expressão do eu autêntico desemboca em sentimentos de inadequação

As vítimas do trauma do desenvolvimento/infância, frequentemente, possuem o medo de serem abandonadas. O medo do abandono é sentido nos contextos relacionais quando a expressão do eu autêntico desemboca em sentimentos de inadequação. A autoexpressão genuína, por outro lado, é vivenciada quando o pensamento, os sentimentos e os comportamentos ocorrem de maneira congruente. Quando você está em processo de luto, por exemplo, e reflete sobre a perda, sente-se triste, parece abatido e evita o contato social demonstrando coerência entre o que pensa, como se sente e se comporta. No entanto, os pais emocionalmente negligentes e abusivos, por exemplo, não demonstram coerência, não promovem uma conexão saudável com as emoções, especialmente quando negativas. Isso é observado quando criticam, culpam e até punem os filhos por terem e expressarem as emoções como a raiva e tristeza, por exemplo. As crianças expostas à atitude imatura dos pais em relação às emoções negativas aprendem, portanto, a associar a sua expressão a sentimentos de rejeição, vergonha e perda de afeto.

Se o amor dos pais é condicional e se mostra indisponível quando os filhos se sentem frustrados e tristes, cometem um erro ou não atendem às expectativas, a vergonha que sentem desencadeia uma sensação de insegurança. Esse mecanismo não se observa operante apenas quando são jovens, mas também ao longo da idade adulta. Na prática, essa tendência se reflete nos comportamentos emocionalmente dependentes, como agradar às pessoas e negar as necessidades individuais para garantir a relação. A obsessão por cativar todos reprimindo as emoções negativas e vontades próprias é altamente motivada pelo medo das consequências drásticas que supostamente resultariam da liberdade emocional e dos atos de autoafirmação, ou seja, a perda de amor e apego.

Uma vez que a ligação entre a vergonha e o medo do abandono é tão íntima e prejudicial à saúde mental, é vital destacar a sua influência na nossa capacidade de criar os relacionamentos funcionais que nos permitem ser nós mesmos e estabelecermos conexões emocionais fortes. Se não se sente bom o suficiente para conectar-se com o corpo, entender e honrar as necessidades porque tem um grande medo do efeito que isso pode ter sobre os outros, recomendo questionar as crenças disfuncionais que estão alimentando o medo de abandono. Primeiramente, não é dever de ninguém tornar a existência alheia livre de desconforto emocional. Em segundo lugar, você gostaria de manter um relacionamento com alguém que só valida os próprios interesses, necessidades e desejos? E, finalmente, não gostaria de sentir-se digno do seu eu? Se acredita ser bom o suficiente para si próprio, pratique tolerar a vergonha que resulta de uma atitude autêntica até que esta tendência se torne uma característica sua.