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Reconectando-se com as necessidades não atendidas: o alarme da raiva

As emoções são ferramentas poderosas que ajudam a nos conectarmos com o ambiente, com as outras pessoas e conosco. As emoções como a culpa e a raiva alertam-nos sobre os efeitos das nossas próprias ações e das ações dos outros. Quando percebe que as suas palavras magoaram alguém, por exemplo, sente-se culpado e, às vezes, com raiva de si próprio, o que o motiva a desculpar-se pelo ocorrido para reparar o relacionamento. Portanto, as emoções negativas também desencadeiam ações que levam a mudanças positivas.

Reconectando-se com as necessidades não atendidas: o alarme da raiva
A raiva ajuda-nos a identificar as necessidades não atendidas.

Embora a culpa seja considerada uma emoção negativa, os efeitos positivos dos comportamentos que desencadeia são reconhecidos pela maioria. Infelizmente, essa atitude tende a não se aplicar à raiva, pois é amplamente mal compreendida, julgada indiscriminadamente, considerada destrutiva ou apenas um impulso a ser controlado. Apesar das demonstrações agressivas de raiva dificilmente passarem despercebidas, isso não ocorre com as suas causas. Contudo, as formas de expressão da raiva abusiva não devem dominar a narrativa e erradicar o propósito desta emoção.

O alarme da raiva

A raiva ajuda-nos a identificar as necessidades não atendidas. A raiva seguida de sentimentos de rejeição, por exemplo, lembra-nos da necessidade de sermos amados. Quando sentimos raiva por não atingirmos os objetivos, nós nos conectamos com a necessidade de criar um significado para a vida. Sentir-se amado e viver uma vida significativa aumentam o bem-estar, o que promove a saúde física, emocional e relacional.

A raiva também nos permite reconhecer quando os limites não são honrados. Quando dizemos não e não somos ouvidos, sentimo-nos sem importância e desrespeitados. Sentir-se menos ou alienado conecta-nos com a necessidade de valorização e pertencimento. Quando a nossa existência é validada, há um grande aumento não só do nosso senso de conexão conosco e com os outros, bem como da vontade de se engajar com a vida.

Em The Surprising Purpose of Anger: Beyond Anger Management, Finding the Gift, Rosenberg (2005) destaca a raiva como um meio de alerta, cuja função é chamar a nossa atenção para as necessidades a serem atendidas. Em face disso, o autor sugere mudarmos o foco do julgamento de nós mesmos e dos outros, quando estivermos sob a influência da raiva, para o que precisamos e queremos.

Para além da raiva

Um relacionamento saudável com a raiva é aquele que nos permite ver além dela. A raiva é altamente energizante e até viciante, pois desencadeia os sentimentos de força, honradez e legitimidade, desta forma, precisamos de treino árduo para resistir à atração de nos movermos nessa direção. Uma atitude consciente em relação à raiva ajuda-nos a concentrarmos no que realmente importa: identificarmos e nos conectarmos com as necessidades não atendidas, sejam nossas ou de outras pessoas. Embora produtivo,  esse processo não se concretiza da noite para o dia, mas requer prática. Para criarmos uma relação saudável com a raiva, devemos nos permitir vivenciar esse processo e, inclusive, cometer erros, durante um período razoável, até que se torne internalizado.

Referência:

Rosenberg, M. B. (2005). The Surprising Purpose of Anger: Beyond Anger Management: Finding the Gift. PuddleDancer Press.

Autossabotagem ou cansado de buscar a felicidade?

Você percebe uma sensação de insatisfação com a vida e começa a explorar o porquê, afinal, deve estar faltando algo para que se sinta desta forma. Você indaga, “Tenho trabalhado duro o suficiente para alcançar todos os meus objetivos?” e “Há alguma coisa que eu possa obter para tornar-me mais feliz e realizado?”. Se a sua resposta for não para a primeira pergunta e sim para a segunda, pode passar a analisar as circunstâncias sobre a perspectiva da autossabotagem.

Quando estudamos o termo “autossabotagem”, seja online ou em uma biblioteca de autoajuda, encontramo-lo amplamente ligado aos temas de crescimento profissional e empreendedorismo, o qual está altamente associado ao fracasso ou como Brenner (2019) coloca

“A autossabotagem ocorre quando nos destruímos física, mental ou emocionalmente ou deliberadamente atrapalhamos o próprio sucesso e bem-estar, minando objetivos e valores pessoais”.

O problema da “autossabotagem” não existe no vácuo, mas é produto de uma cultura de busca à felicidade através do “sucesso” e da “realização”. Tal cultura tem os olhos no objetivo final enquanto ignora a jornada, portanto, limita a apreciação da experiência à obtenção de bens materiais e validação. Como buscadores da felicidade, tornamo-nos dependentes de bons sentimentos – desencadeados por fatores externos – para nutrirmos um sentido de plenitude e engajamento com a vida.

Autossabotagem ou cansado de buscar a felicidade?
Você anda cansado de buscar a felicidade?

Mas vamos retornar a você se questionando sobre o que fez de errado. De acordo com a teoria da autossabotagem, o que precisa para superar a insatisfação é arregaçar as mangas e fazer algo, contudo, considere o seguinte: e se o seu corpo souber de algo do qual você não esteja ciente? E se entender, secretamente, que mesmo que alcance todos os objetivos e sinta uma onda de felicidade, voltará ao basal pessoal? De forma orgânica e sem ter conhecimento da teoria da “esteira hedônica”, decidiu sair dela.

Antes de descartar a sabedoria do corpo, tome um instante para sentar-se com o seu desconforto. Torne-se o observador dos sentimentos sem se envolver com eles, atento ao seu fluxo e refluxo natural, sem se deixar influenciar. Com curiosidade e de coração aberto, entregue-se ao momento alternando o foco da atenção da experiência interna para a externa. À medida que a concentração se torne mais intensa, observe como a percepção muda, momento a momento. Assim que se sentir mais presente com a experiência, cultive uma sensação de aceitação e contentamento no corpo. Após alguns minutos, comece a contemplar a vida de novo. Você ainda sente uma necessidade ardente de mudança?

Referência:

Brenner, B. P. (2019). Stop sabotaging yourself: Tips for getting out of your own way. Therapy Group of NYC. Retrieved March 13, 2021, from https://nyctherapy.com/therapists-nyc-blog/stop-sabotaging-yourself-tips-for-getting-out-of-your-own-way/

4 sinais de estafa relacional (relationship burnout)

estafa relacional
Perder o interesse no outro é um sinal de estafa relacional

Apesar de desembocar em sentimentos de ansiedade, a estafa relacional é um fato real e abrange todos os tipos de relacionamento, seja entre colegas de trabalho, amigos ou, até, entre pais e filhos. Todos somos suscetíveis a isso, mas os codependentes em recuperação, ou aqueles que apresentam dificuldades de honrar os limites, tendem a vivenciá-la com mais frequência. Elenca-se aqui 4 sinais de estafa relacional para você conhecer os seus efeitos no comportamento:

Você se sente exausto: o relacionamento tornou-se muito intenso e/ou unilateral. Você se sente esgotado por passar muito tempo com a outra pessoa, mesmo quando esta não se sente da mesma forma, o que também desemboca em uma sensação de sobrecarga, especialmente quando os limites não são respeitados. Você se sente culpado quando diz não, mas mantém a obrigação de priorizar as necessidades do outro.

Você perdeu o interesse: você tem dificuldade de se conectar com a outra pessoa de uma maneira prazerosa, significativa ou recompensadora, visto que os seus valores, ideias e interesses mudaram e não se alinham mais com os da outra pessoa. Você começa a dar desculpas para não vê-la ou despende grande tempo preocupando-se em encontrar razões “boas o suficiente” para não encontrá-la.

Você superou o relacionamento: você cresceu e se desenvolveu como pessoa, mas a outra pessoa, não. Como a versão atual sua não favorece a dinâmica relacional, sente-se pressionado a agir de forma inautêntica para preservar a conexão.

Você se sente impotente: como você mudou, mas a dinâmica do relacionamento não, você se sente pessimista sobre o futuro do relacionamento. Você considera a possibilidade de contar como se sente para a outra pessoa, mas fica desesperançado diante de uma mudança real. Como resultado, passa a fantasiar sobre reduzir ou, até mesmo, cortar o contato.

Se se identificou com o relatado, é um bom momento para reavaliar o relacionamento. Embora a conexão com as outras pessoas promova o engajamento com a vida, os relacionamentos disfuncionais nos fazem sentir desconectados do nosso verdadeiro eu. Considere dar uma pausa no relacionamento se parece exigir-lhe demasiada energia e sacrifício. Lembre-se de que tem o direito de mudar de preferências e levar uma vida tranquila.

Afirmações para aqueles momentos de raiva aleatória e ódio injustificado

Afirmações para aqueles momentos de raiva aleatória e ódio injustificado
A raiva sem um gatilho conhecido faz com que nos sintamos ainda mais irritados

A raiva, como a maioria das emoções negativas, não é tolerada na nossa cultura de negligência emocional. Embora seja humano e até saudável sentir raiva, temos dificuldade de aceitá-la. A intolerância à raiva é ainda maior quando não conseguimos conectá-la a eventos específicos de nossas vidas. Portanto, a raiva sem um gatilho conhecido faz com que nos sintamos impotentes, perdidos, culpados, envergonhados, desesperançosos e, por vezes, ainda mais irritados! Para ajudá-lo a equilibrar-se nos momentos de raiva aleatória e ódio injustificado, leia as seguintes afirmações em voz alta ou silenciosamente:

O que eu sinto é normal

Eu sou normal

Eu sou forte o suficiente para tolerar a minha raiva

Eu permaneço íntegro mesmo quando não entendo a razão da minha raiva

Não há nada de errado em sentir raiva mesmo quando parece sem contexto

Essa raiva vai passar porque as emoções vêm e vão

Estou ciente da minha raiva e não culpo os outros por isso

Estou ciente da minha raiva e não me culpo por isso

Eu respeito as minhas emoções mesmo em momentos desagradáveis

Eu honro todas as partes existentes em mim

Eu aceito o fato de que os meus sentimentos não precisam de razões para existir

Sinto-me seguro em minha raiva

Eu posso confiar em mim, mesmo quando sinto intensa raiva

Eu respeito e amo o meu corpo, independente do meu estado emocional

Eu dispenso o autojulgamento tóxico em momentos de raiva

Tenho consciência dos meus estados emocionais

Eu consigo perceber a minha raiva, mas sem me envolver totalmente com ela

Sinto-me mais forte e resiliente quando aprendo com a minha raiva

Eu sou mais do que a minha raiva

Eu sou amado mesmo quando estou com raiva

Eu consigo superar a minha raiva

A melhor maneira de lidar com a raiva é por meio da aceitação. Quando notar que a raiva não desaparece facilmente ou parece não ter uma razão óbvia para existir, consciente e proativamente, abandone a necessidade de controlá-la. Faça uma pausa na sua lista de tarefas e seja gentil consigo. Se sentir uma necessidade ardente de ser produtivo, mesmo em estado de raiva, faça um exercício brusco, como corrida, ou canalize a energia da raiva para algo positivo, como aprender a lidar com ela de forma autônoma.

20 práticas de autocuidado para os sobreviventes do trauma complexo

20 práticas de autocuidado para os sobreviventes do trauma complexo
As práticas de autocuidado ajudam-no a garantir o bem-estar emocional

As terapias do trauma, tal como a de EMDR Focado no Apego, são, na maioria dos casos, essenciais para a cura do trauma complexo. Embora sejam altamente eficazes, os resultados positivos de tais terapias são intensificados e sentidos por um longo período após o seu término quando combinadas com um plano diversificado de práticas de autocuidado. Portanto, elenca-se 20 práticas de autocuidado para os sobreviventes do trauma complexo para ajudá-lo a promover e manter o bem-estar mental/emocional, físico e relacional:

  1. Esforce-se para dormir bem: pratique uma boa higiene do sono e priorize-a para dormir bem e se sentir revigorado e menos reativo.
  2. Alimente-se de forma saudável: escolha os alimentos integrais e evite os ricos em carboidratos refinados (massa e pão branco etc.), a cafeína, o fumo e reduza o consumo de álcool para ajudar a diminuir a ansiedade.
  3. Pratique exercício ou atividade física regularmente: faça ioga, Pilates, comece a correr ou a fazer caminhadas, torne-se membro de uma academia ou faça aulas de dança para obter aquele efeito revigorador da endorfina e prevenir a depressão.
  4. Socialize: evite o isolamento – que pode torná-lo mais sujeito à depressão – marque encontros com amigos antigos enquanto tenta fazer novas amizades.
  5. Pratique uma boa higiene pessoal: tome banho diariamente, mantenha as unhas, cabelos e dentes limpos e lave as mãos após usar o toalete.
  6. Faça o que precisa ser feito: conclua as tarefas que tende a adiar para recuperar o senso de competência e autoeficácia.
  7. Divirta-se: lembre-se de fazer coisas divertidas e curtir a companhia de quem o faça se sentir bem.
  8. Passe tempo em meio à natureza: faça caminhadas, mesmo que sejam curtas, ou longas viagens em áreas de natureza abundante para organizar a mente e reduzir a agitação.
  9. Faça algo diferente: pratique uma atividade que o faça sentir-se um pouco desconfortável ou fora da zona de conforto para estimular a atividade cognitiva (memória, atenção e percepção).
  10. Experimente a medicina alternativa para tratar dores, aparentemente, insolúveis: marque uma sessão de acupuntura, massagem, aromaterapia, Rolfing, craniosacral ou quiropraxia.
  11. Tire “umas férias” das redes sociais: leia um livro, ouça música ou tente sentar-se em silêncio e conectar-se com o que está a sua volta em vez de se dissociar do ambiente enquanto olha para uma tela.
  12. Seja seletivo com o que assiste e lê: evite assistir notícias, filmes e documentários cujo conteúdo funciona como um gatilho para o seu trauma e busque o que provoca o riso, sentimentos de amor e prazer em vez de medo e raiva.
  13. Faça uma pausa: ouça o seu corpo e respeite a sua necessidade de relaxamento. Não fique adiando a marcação de uma consulta médica quando necessário.
  14. Reduza o tempo que passa em frente de telas: limite o uso do telefone e computador para determinadas horas do dia. Não use o celular duas horas antes de ir dormir, caso sofra de distúrbio do sono.
  15. Dedique tempo para processar o luto: reserve tempo para sentar-se em um lugar privado, conectar-se com o corpo, sentir-se triste, chorar e sentir raiva pelo que está passando ou ao que foi submetido quando criança e adolescente.
  16. Medite e faça exercícios de respiração: sente-se e concentre-se no corpo e na respiração.
  17. Escute afirmações: pratique uma lavagem cerebral positiva ouvindo afirmações, diariamente, que visam sua segurança.
  18. Ouça e acredite nos sentimentos para honrar os limites pessoais: opte por acreditar no que sente e diga não com mais frequência ao que o desagrada ou com o que discorda.
  19. Reduza drasticamente ou corte o contato com os indivíduos que o afetam de forma negativa: priorize passar tempo com quem o aceita, ouve e apoia.
  20. Não se permita ser definido pelo seu trauma: recrie a sua narrativa, proativamente, de forma que destaque a sua resiliência, força interior e crescimento pós-traumático.

Para desenvolver uma rotina de autocuidado saudável e agradável, torne-a sua escolhendo as práticas com as quais se identifica ou sinta vontade de experimentar. A seguir, pratique pelo menos uma delas, diariamente. Demonstre verdadeiro amor por si próprio criando o hábito de dedicar tempo para a cura e o crescimento pessoal – especialmente quando não estiver se sentindo bem – para recuperar um senso de integridade e conexão, e levar uma vida realizadora.

O luto das perdas de 2020

O luto das perdas de 2020
Quando não processamos as perdas significativas, temos dificuldades de seguir em frente

A maioria de nós concorda que 2020 foi um ano difícil, alguns expressam o seu descontentamento de forma ainda mais enfática e afirmam que foi “um ano terrível” ou “o pior de todos”. Referir ao ano que passou de forma tão negativa, inevitavelmente, desemboca em grandes expectativas para 2021, apesar de não haver garantias que as mudanças que aguardamos, ansiosamente, vão se concretizar tão cedo quanto gostaríamos. Portanto, é valido questionarmo-nos se estamos emocionalmente preparados para aceitar as circunstâncias atuais de uma maneira mais paciente e centrada.

Para a maioria, a resposta é não, já que ainda não fez o luto das perdas de 2020. Isso se deve ao fato de que, quando não processamos as perdas significativas, temos dificuldades de seguir em frente. Se o conceito de fazer o luto das perdas do ano passado parece-lhe demasiado abstrato, imagine 2020 como um evento que representa uma grande mudança na sua vida, como ir morar com alguém que ama. Antes da mudança, planejam tudo juntos, com muito entusiasmo, visualizando um lugar lindo e aconchegante que criarão. Além disso, veem-se alegres recebendo amigos para jantar e divertindo-se em diversas ocasiões. Enquanto se preparam para a grande mudança, contudo, um de vocês perde o emprego e o outro é diagnosticado com uma doença grave, sendo forçados a interromper todo o processo e, o que é pior, sem ter qualquer previsão de quando as coisas vão melhorar ou se algum dia conseguirão realizar esse sonho.

Tais perdas nos deixam tristes e muito zangados. Como fomos criados em uma cultura de negligência emocional, entretanto, nenhuma dessas emoções são abordadas e lidadas de maneira saudável, raramente isso ocorre. Apesar de não nos conectarmos com estas e as processarmos adequadamente, somos capazes de senti-las. Embora a fobia emocional seja tão prevalente, a tristeza e a raiva que carregamos permanecem armazenadas no corpo, o que tende a prejudicar não apenas a saúde emocional, mas, também, a física. No âmbito dos relacionamentos, a insatisfação com a vida e a raiva acumulada tendem a ser projetadas no outro, um processo altamente inconsciente que também o prejudica.

Portanto, se deseja encarar 2021 com uma atitude renovada e proteger a saúde dos relacionamentos, recomendo processar o luto pelas perdas de 2020, tais como as oportunidades perdidas de mover-se e interagir com as outras pessoas livremente, viajar, socializar com os amigos, familiares, colegas de trabalho e vizinhos, namorar, conhecer novas pessoas e fazer novos amigos, encontrar um novo emprego, mudar de residência, assim como todas as outras atividades e eventos que colorem a nossa existência. Se precisar de ajuda para processar qualquer tipo de perda, sugiro a leitura dos seguintes artigos:

Como processar a dor emocional

5 técnicas de autorrelaxamento para o processamento do luto de forma saudável