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Como acessar o poder de cura do luto

O luto é um processo de cura biológico e emocional/psicológico que permite lidar com as perdas, independente de sua natureza. Quem se abre para o luto, experiencia dores emocionais e até físicas, contudo, este processo não é vivenciado por todos igualmente, visto que afeta alguns com mais intensidade do que os outros. Enquanto alguns se conectam mais facilmente com raiva e culpa, por exemplo, outros têm dificuldade de sentir algo além de uma tristeza profunda. Embora não haja uma maneira correta de processar o luto, o seu poder de cura é universal.

Como acessar o poder de cura do luto
Para acessar o poder de cura do luto, você precisa cultivar uma atitude consciente

Infelizmente para aqueles que concordam com os benefícios do luto, somente estar ciente disso não facilita a conexão com o processo. Pensar que é uma boa ideia vivenciá-lo ou ouvir músicas tristes, por exemplo, pode não o desencadear. Isso se deve ao fato de que o luto é insidioso e chega quando menos se espera – durante as compras de roupas ou no jantar, por exemplo. Além disso, é escorregadio e escapa quando se quer controlá-lo.

Para acessar o poder de cura do luto, você precisa cultivar uma atitude consciente em relação às mudanças que vivencia no corpo. As sensações corporais carregam informações preciosas não apenas sobre a nossa fisiologia, mas também sobre os sentimentos. A tristeza e a raiva – as principais emoções do luto – têm as suas formas de expressão próprias. Pense em como se sente quando experiencia ambas e faça um inventário mental das sensações corporais negativas que conecta com sentir-se triste, como peso na parte superior do corpo, pressão no peito e uma sensação de nó na garganta e lágrimas atrás dos olhos. Faça o mesmo com a raiva.

Uma vez que esse conhecimento esteja à frente da consciência, será difícil não se conectar com a dor do luto quando surgir. Ao notar esse sentimento, volte a atenção para ele, largue o que estiver fazendo e, literalmente, sente-se com as emoções presentes. Se por algum motivo isso não for possível, por estar no trabalho ou ocupado com algo importante, faça uma anotação mental para se conectar com elas mais tarde. Não adie para o dia seguinte, reserve um tempo para se conectar com as suas emoções – seja raiva, tristeza ou culpa – o mais rápido possível.

Dedicar tempo para processar o luto quando este surge é a melhor estratégia de cura, bem como uma atitude honesta e proativa. Abordar este processo com franqueza e sem se envergonhar por se encontrar vulnerável favorece a sua saúde mental, isso se torna modelo de maturidade e força para aqueles que você influencia.

O que fazer para ser feliz (mesmo vindo de uma família tóxica)

O que fazer para ser feliz (mesmo vindo de uma família tóxica)
Qual é o caminho para a felicidade?

Qual é a importância da felicidade na sua vida? Você a considera quando toma decisões importantes ou tende a esquecê-la, pois se sente sobrecarregado com tanto caos e drama familiar? Se provém de uma família tóxica e é/foi vítima de abuso emocional, é comum apresentar uma tendência de negligenciar a própria felicidade para garantir um senso de (falsa) harmonia com os pais e irmãos, como quando se sente culpado por ter vontades, emoções e opiniões próprias e as sacrifica para não os aborrecer, ser rejeitado e, consequentemente, alienado do grupo, por exemplo. Naturalmente, revela-se como um desafio concentrar-se no que o faz feliz quando a atenção é constantemente divergida para os desentendimentos e a insegurança que causam.

Em Happiness by Design, o professor de ciência do comportamento da London School of Economics Paul Dolan propõe que, para vivermos uma vida feliz, precisamos direcionar a atenção para o que nos faz felizes e não para o que achamos que deva nos fazer felizes. As pesquisas de Dolan expuseram a grande diferença na perspectiva dos dois tipos de “eu”, the experiencing self (o eu que vivencia) e the remembering self (o eu que lembra) e como a nossa confiança no segundo não favorece a nossa felicidade (Dolan, 2014). O autor conclui que, para sermos felizes, precisamos conectar com as experiências no momento em que ocorrem para estabelecermos se nos afetam de forma positiva ou negativa, já que a informação proveniente destas é muito mais acurada do que a das lembranças que criamos.

Portanto, os filhos e filhas de mães narcisistas/abusivas/tóxicas que valorizam a felicidade e querem vivenciá-la na prática precisam atentar para o seguinte:

  • Seja cauteloso ao que dá atenção e com o tempo dispensado. Opte por dedicar-se a atividades e pessoas que o fazem – de fato – sentir-se bem, ou seja, leve, alegre, curioso, energético e animado, enquanto reduz a frequência ou corta o contato com aquelas que produzem o efeito oposto.
  • Não confie em versões de fatos que minimizam o efeito negativo que certas pessoas e circunstâncias provoca em você.
  • Honre o corpo de forma honesta e autêntica seguindo os valores que o favorecem, da cabeça aos pés, tolerando o desconforto que isso causa como um investimento na felicidade a longo prazo.

Embora a pressão cultural de negligenciar a própria felicidade para concentrar-se nas vontades dos pais seja defendida como correta, isso causa infelicidade a muitos. Contudo, é possível desvencilhar-se desta mentalidade medíocre e viver uma vida repleta de felicidade. Se precisa de ajuda para reavaliar os valores que o fazem se sentir preso aos relacionamentos disfuncionais, recomendo a leitura do meu novo livro, Desconstruindo a Família Disfuncional. O Prisioneiras do Espelho, Um Guia de Liberdade Pessoal para Filhas de Mães Narcisistas contém dicas práticas de como colocar-se em primeiro lugar, como através do corte de contato com a mãe narcisista/tóxica/abusiva.

Referência:

Dolan, P. (2014). Happiness by design: change what you do, not how you think. New York, New York: Hudson Street Press.

Por que estou sempre com raiva? Entenda o vício da raiva

Sentir-se amado incondicionalmente pelo pai e/ou mãe é essencial para promover um senso saudável de autoestima. O amor incondicional é vivenciado quando a criança sente-se percebida, ouvida e vista de forma a satisfazer as necessidades básicas de seu desenvolvimento. Os pais que estão em sintonia com as emoções dos filhos com empatia e sem julgamento ajudam-lhes a cultivar um senso de integridade em seus corpos, mesmo quando afetados por emoções negativas intensas, tais como a vergonha, o medo e a raiva. A negligência (inclusive emocional) e o abuso sofrido durante a infância, entretanto, desembocam em trauma do desenvolvimento e sentimentos de baixa autoestima. Como esses são ativados com facilidade e não processados ​​funcionalmente com a ajuda de uma presença adulta emocionalmente consciente e madura, a criança em desenvolvimento torna-se suscetível a criar um relacionamento disfuncional com o seu mundo interior.

Por que estou sempre com raiva? Entenda o vício da raiva
A raiva ajuda-nos a regular os sentimentos de vulnerabilidade

As crianças que se sentem inadequadas por terem sentimentos negativos (ou, por vezes, sentimentos de qualquer natureza) devido à influência de pais abusivos e/ou (emocionalmente) negligentes têm pouco ou nenhum acesso a ferramentas funcionais para processá-los de modo saudável. Nesses casos, tendem a recorrer a estratégias de enfrentamento mal-adaptativas para lidarem com a vergonha, o medo de abandono e outros sentimentos que os fazem sentirem-se indignos de amor para recuperar alguma sensação de bem-estar, já que é lógico querer se sentir bem. Também é humano evitar o sofrimento e tentar controlá-lo. Os problemas surgem quando uma determinada estratégia se torna “a única” e, sobretudo, quando faz mais mal do que bem a longo prazo. Uma rara experiência de compulsão alimentar na frente da televisão é aceitável quando não é o meio exclusivo de tolerar a dor das perdas causadas pelo trauma. Quando isso é praticado diariamente para lidar com o estresse crônico, o luto não processado e os sentimentos de impotência e isolamento emocional, por exemplo, torna-se um vício.

A raiva – vivenciada predominantemente como uma emoção secundária – ajuda-nos a regular os sentimentos de vulnerabilidade. Sob a sua influência, nós nos sentimos dignos de respeito e direitos, bem como justificados, pois nos concede energia e poder, tornando-nos prontos para a luta e nos defendermos de quem ou o que quer que seja – inclusive sentimentos – que nos fazem sentir pequenos e magoados. Nesse estado elevado de agitação, experienciamos uma sensação de euforia que pode tornar-se viciante. Tal como aqueles que estão acima do peso e concentram-se apenas em fazer dieta, mas evitam explorar os mecanismos subjacentes que alimentam o vício da comida e, por essa razão, têm dificuldade de manter um peso saudável – os viciados na raiva permanecem zangados por negligenciar as emoções primárias que a desencadeiam. Portanto, a razão pela qual você está “sempre com raiva” pode estar centrada no medo, na relutância ou dificuldade de acessar as emoções mais profundas e dolorosas que carrega como resultado de anos de negligência (emocional) e/ou abuso.

Se se identifica com o acima relatado, recomendo o aconselhamento do trauma para lidar com os efeitos do trauma complexo, como a raiva acumulada e o vício nesta.

6 sinais de TEPT-C (Transtorno de Estresse Pós-traumático Complexo)

6 Signs of CPTSD
A dificuldade de regulação emocional está conectada ao TEPT-C

O Transtorno de Estresse Pós-traumático Complexo ou TEPT-C pode ocorrer como um efeito do trauma complexo, o qual resulta da exposição repetida a eventos adversos por um período prolongado. As filhas e filhos de pais narcisistas/tóxicos/abusivos e aqueles que cresceram e se desenvolveram em um ambiente altamente disfuncional são, portanto, propensos a terem sofrido abuso e negligência na infância (incluindo emocional) o que, por sua vez, aumenta a probabilidade de identificarem-se com os seguintes 6 sinais de TEPT-C:

1- Alta reatividade e dificuldades de regulação emocional: o trauma da infância mal resolvido está ligado ao luto não processado, à raiva acumulada e aos sentimentos profundos de solidão e depressão do abandono que requerem esforços conscientes para serem administrados. Devido à hipervigilância, contudo, os sentimentos de ansiedade surgem rápida e facilmente, tornando mais difícil compreender e gerenciar a vida interior. Portanto, as emoções são frequentemente sentidas de forma intensa e sem uma sensação de correspondência ou mesmo de pertença a um contexto específico.

2- Mudanças na consciência: dissociação, dificuldade de recordar os eventos traumáticos, inclusive emoções relacionadas a estes.

3- Autoimagem negativa: fortes crenças negativas sobre si próprio que são sentidas no corpo mesmo quando não correspondem ao pensamento objetivo (“Sei que sou competente/bom o suficiente/digno de ser amado, mas não me sinto assim”). Presença de um crítico interno influente, tendência a ver o mundo em preto e branco e síndrome do impostor são comuns.

4- Dificuldades na área dos relacionamentos: dificuldade de confiar nos outros e ver os relacionamentos como fontes de bem-estar. Tendência natural de gravitar em torno de indivíduos abusivos/tóxicos e relacionamentos codependentes e emocionalmente dependentes, uma vez que parecem familiares e criam uma falsa sensação de segurança.

5- Percepção distorcida do abusador: ver o abusador como todo poderoso e capaz de causar dor contínua, controlar ou mesmo destruir vidas, mesmo quando é muito mais velho(a), física e mentalmente mais fraco(a) e emocionalmente imaturo(a), por exemplo. Tendência a ficar obcecado por se sentir ouvido e ter as emoções e experiências validadas por este, bem como nutrir pensamentos e fantasias recorrentes sobre conversas, acerto de contas e planos de vingança.

6- Perda dos sistemas de significados: sentimentos de desesperança e perda de propósito em relação ao mundo, à vida, às pessoas e à espiritualidade.

Outros sintomas incluem: dor no peito, dores de cabeça frequentes, enxaqueca, armouring, bruxismo, problemas gastrointestinais, baixa libido, dificuldade de apreciar o sexo, sistema imunológico enfraquecido, distúrbios do sono, flashbacks, comportamentos de evitação, pensamentos suicidas, maior suscetibilidade a comportamentos que desembocam em vício e depressão.

Se se identificou com o relatado, saiba que o tratamento do TEPT-C é possível através de uma atitude consciente e proativa que inclui uma combinação da terapia do trauma, tal como a de EMDR Focada no Apego, e medidas de cuidado pessoal.

Crenças positivas e afirmações para ajudá-lo a superar a codependência

Crenças positivas e afirmações para ajudá-lo a superar a codependência
As crenças positivas ajudam a promover a autoestima

A codependência é um efeito comum do trauma relacional e desenvolvimento. Os filhos adultos de famílias disfuncionais que não cresceram sentindo-se ouvidos, percebidos e vistos têm dificuldade de se conectar com um senso saudável de autoestima e limites pessoais, inclusive, na maturidade. Portanto, são altamente propensos a recorrerem a comportamentos codependentes para se sentirem seguros e aceitos. Segue uma lista de crenças positivas e afirmações para ajudá-lo a superar a codependência:

Eu sou bom o suficiente para mim

Eu sou bom o suficiente para as outras pessoas

Eu sou amado

Eu sou digno de amor

Eu sou íntegro mesmo quando sozinho

O meu valor é incondicional

Os meus sentimentos são importantes

As minhas necessidades e desejos são importantes

As minhas opiniões são importantes

Eu consigo tolerar o desconforto dos outros

Eu consigo separar-me de sentimentos, necessidades e desejos dos outros e concentrar-me nos meus

Eu consigo lidar com o meu desconforto

Eu consigo tolerar as emoções negativas

Eu sei reconhecer e validar os meus sentimentos

Eu sou emocionalmente consciente

Eu sou autoconsciente

Eu tenho uma ótima conexão com o corpo

Eu sou emocionalmente autônomo

Eu sou emocionalmente maduro

Sinto-me seguro em meu corpo

O meu corpo é o meu melhor guia

Estou ciente do impacto que os outros têm sobre mim

Eu sou muito mais do que os relacionamentos que mantenho com os outros

Eu dou preferência aos relacionamentos que promovam o crescimento pessoal

Eu dou preferência aos relacionamentos com quem respeita os meus sentimentos e as minhas necessidades

Eu sei como honrar o meu eu por meio de comportamentos assertivos

É saudável dizer não

A agência humana é um superatributo

Eu sou sábio

O meu bem-estar vem em primeiro lugar

Eu consigo dizer não e honrar os meus limites

Eu sou competente

Eu adoro a minha própria companhia

O meu tempo é precioso

Eu sou um sobrevivente

Eu sou forte

Eu aceito as minhas vulnerabilidades e limitações

Eu aceito as vulnerabilidades e limitações dos outros

Eu respeito as necessidades de autonomia das outras pessoas

Os erros são fontes de sabedoria

Eu mereço respeito

Eu sou digno de ser tratado com gentileza

Eu consigo tolerar a rejeição

Eu consigo tolerar a inadequação e insegurança

Eu sou corajoso

Os valores ou as visões que tem de si próprio como um indivíduo e nos relacionamentos dizem muito sobre o papel que desempenha nestes. Quando rígidos e tendenciosos para o negativo, alimentam a disfunção e criam uma barreira psicológica entre o seu eu e as suas necessidades. Para levar uma vida mais satisfatória e autêntica, questione proativamente os padrões de pensamento negativos e sinta-se à vontade para usar as crenças positivas e afirmações listadas como guias de uma abordagem mais funcional dos relacionamentos.

3 sinais de que você tem uma percepção distorcida de quem a abusou

3 sinais de que você tem uma percepção distorcida de quem a abusou
Manter uma percepção distorcida de quem abusa é uma experiência comum entre as vítimas de abuso

Você se sente emocionalmente perturbada e insegura em relação a quem a abusou, mesmo após ter cortado o contato? Para compreender como o julgamento é afetado pelo trauma, elenca-se 3 sinais de que você tem uma percepção distorcida de quem a abusou:

1- Você esquece as vulnerabilidades de quem a abusou

Os indivíduos abusivos usam o carisma e a influência, bem como o medo, a vergonha e culpa para controlar e manipular os outros, portanto, a sua “força” depende da capacidade de envolver as vítimas e fazê-las sentirem-se inseguras. Sem esse controle sobre o outro, no entanto, perdem a “confiança” e, sobretudo, o senso de poder. Como resultado, sentem-se inseguros e perdidos. Sentindo-se desconcertado pela própria inadequação, a falta de empatia e raiva acumulada deles vêm à tona expondo as vulnerabilidades. Quando você cria o hábito de se lembrar desses momentos e das fraquezas de quem a abusou, você o(a) humaniza enquanto se empodera.

2- Você se perde na realidade subjetiva de quem a abusou

Se as opiniões tendenciosas de quem a abusou continuam permeando e corrompendo a sua mente quando está no processo de tomar decisões importantes, de autorreflexão ou contemplação de mudanças, ainda está vivendo de acordo com a versão da realidade dele(a) e não com a sua. Sempre que notar a presença de quem a abusou em sua cabeça, educadamente, com humor ou até mesmo de forma agressiva, descarte esse pensamento disfuncional e improdutivo, imediatamente. Em seguida, reconecte-se com o corpo e a mente com amor, apreço e respeito por si própria.

3- Você se esquece de como é resiliente

O abuso de qualquer natureza, seja verbal, física (violência doméstica), sexual ou emocional/ psicológica, é prejudicial a qualquer pessoa, exposta de forma direta ou indireta (também conhecido como abuso vicário). Como os efeitos do trauma causado pelo abuso são numerosos, o fato de estar fazendo o melhor que pode para curá-lo e levar uma vida equilibrada e gratificante mostra o quão é resiliente. Quando age passivamente quando se sente menos do que o seu agressor, a vergonha e a culpa dominam e a conexão com o eu adulto e centrado é, temporariamente, perdida.

Embora manter uma percepção distorcida de quem abusa seja uma experiência comum entre as vítimas de abuso, é útil reiterar que constitui um dos efeitos do trauma de ordem complexa. Desta forma, quando perceber que desconfia do próprio julgamento acerca do caráter de quem a abusou e do sofrimento que sentiu, faz-se vital organizar os pensamentos e se distanciar dos sentimentos para dar espaço, novamente, à sua verdade e ao seu saudável senso de autodireção.